RJ, 08.10.2013
Quando nós adotamos a maneira de
pensar dos psicossociónomos[1], a
cultura de um país acaba por ser um
conjunto de características que nos introduzem aos códigos sociais, aos ritos,
aos símbolos e aos valores de uma sociedade.
Os psicossociónomos partem da
constatação de que uma sociedade é concebida no nascimento de um país, que ela
nasceu de seus pais fundadores, que ela passou por eventos marcantes, criando e
amando seus heróis, tudo como aconteceria com um indivíduo.
Esses especialistas analisam uma
nação como se fosse uma pessoa e assim, a noção de cultura torna-se viva e
dinâmica: uma sociedade passa por etapas de desenvolvimento...ela termina a
infância, atravessa uma fase em que busca por sua identidade, como se faz na
adolescência, chega à maturidade e inicia seu período de declínio.
Os psicossociónomos igualmente
supõem que uma sociedade teria, como uma pessoa, um inconsciente. E aqui as
coisas são mais interessantes.
Nós sabemos desde Freud e Eric
Berne[2] que,
através da noção de Cenário de Vida,
que o próprio inconsciente influencia a vida de cada um sem seu conhecimento...
porque o inconsciente não deixa aproximar-se dele ou decifrá-lo facilmente. Ele
se manifesta através de lapsos, de atos falhos e de sonhos...nada simples,
ainda mais por ele ser cheio de energia!
O inconsciente de uma criança é
impregnado por seus pais e por sua vivência durante a infância no seio de
criação de sua família. Se nós fizermos uma analogia, o inconsciente de uma
sociedade é impregnado pelo espírito de seus pais fundadores e por seus grandes
momentos históricos. Como uma pessoa, essa sociedade teve sentimentos e emoções
e adotou um certo tipo de comportamento inconsciente nascido dessas
experiências.
Outra característica desse
inconsciente chama-se a compulsão da repetição.
Em outros termos, nosso
inconsciente irá nos impelir a reproduzir e recolocar em evidência as situações
difíceis de nossa infância, na esperança absurda de resolvê-los enquanto
adulto.
Nós então podemos nos perguntar
a seguinte questão:
foto; Heleno costa |
O que uma sociedade repete
inconscientemente, proveniente do seu passado, que remonta aos seus pais
fundadores?
Na Recursimo, nós pensamos sobre
os eventos recentes no Brasil, onde a população não para de se manifestar ha
cinco meses. A pressão da rua foi bem sucedida em impedir o aumento dos preços
das passagens de ônibus. A população continua a exigir: saúde, educação e o fim
da corrupção.
Vista a importância dos desvios
de dinheiro público, nós podemos pensar que seria o suficiente obter uma
diminuição de 80% da corrupção para ter professores, escolas, e serviços de
saúde adaptados às necessidades do país.
Nós somente podemos reconhecer que
o roubo sistemático, em proporções inconcebíveis, das elites corrompidas, é uma
repetição da história que remonta aos fundadores do Brasil.
O Príncipe João, futuro D. João
VI rei de Portugal[3],
levou o tesouro do Estado português aos portos do país para salvá-lo das mãos
de Napoleão, de modo a instalar o Império Português no Rio. Ao chegar, da noite
pro dia, ele expulsou inúmeros cariocas de suas residências para acomodar seus
doze mil cortesãos. Em seguida, ele elevou os impostos de acordo com suas
necessidades. E foi assim durante trezes anos....sem deixar de ter sido amado
pelo povo.
Antes de retornar à Portugal,
ele retirou os últimos centavos dos cofres do Banco do Brasil.
“A realeza que acabava de viver da corrupção
fez um grande saque ao tesouro público”[4].
- “Os fundos atribuídos para manter os diversos setores da indústria e
para os trabalhos de utilidade pública desapareceram por uma súbita sangria e muitas
coisas iniciadas com a chegada da Corte e das quais nós esperávamos um grande
benefício, foram interrompidas.” [5]
“Isso correspondeu a falência, ainda que não declarada”[6].
- “Na prática, o roubo dos recursos do Tesouro tiveram consequências
dramáticas para a economia brasileira...”[7]
Deixando o país e seu filho (o
futuro Imperador Pedro I) em uma insuperável dificuldade financeira que perdurou
por muitos anos e originou uma dívida endêmica. Ainda assim, isso não impedia o
amor do filho por seu pai. Obediência de um jovem rei, resignação diante da autoridade
ou aceitação dos compromissos de um Príncipe?
Para João VI, a situação estava
muito clara: “O que pertence ao Estado, me pertence”. Assim como Louis XIV
declarou “O Estado sou eu”.
Desde então, a maior parte dos governantes
saquearam os cofres públicos como se fossem deles mesmos.
Nós sabemos que a corrupção
existe em todos os países do mundo. É verdade.
Mas nem todos os povos a
consideram como um mal necessário e não dizem:
“Se não forem eles, serão os outros. Tantos se mantém no mesmo lugar,
eles já estão servidos.”
Como se houvesse um limite ao roubo...
Nem todos os povos tem essa incrível tolerância aos atos de corrupção... Como
se a lei do Pai não pudesse ser realmente questionada.
No Brasil, os últimos eventos
tiveram um significado próprio à uma rebelião na adolescência. Poderia-se ainda
seguir seu crescimento ultrapassando os esquemas calamitosos de sua história.
O Brasil deveria utilizar toda a
sua energia de adolescência para desfazer as organizações criminais poderosas
que contribuem para a perda da credibilidade do Estado, particularmente da
América Latina: Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia.
Os pais perversos nunca são fáceis de derrubar. A Síria passa por uma
dolorosa experiência ao custo da vida de sua população.
“A corrupção mata a democracia,
pois ela coloca em cheque os fundamentos da República: a igualdade de
tratamento, o desinteresse do serviço público, a busca pelo interesse geral”
(Michel Sapin)[8].
Françoise DONANT,
Doutora em economia e diretora da Recursimo
[1] Os psicossociónomos utilizam a psicologia e a sociologia em empresas e
em países, considerando que essas entidades pensam, sentem e se comportam como indivíduos.
[2] Eric Berne, fundador da análise transacional e autor do livro “O que
você diz depois de dizer olá?”
[3] Para o historiador Oliveira Lima, D.João VI foi “o verdadeiro fundador
da nacionalidade brasileira” porque ele assegurou lo território e permitiu a
uma classe dirigente de se responsabilizar pela construção do novo país”.
[4] Historiador Manuel de Oliveira Lima
[5] Maria Graham
[6] Historiador Pereira da Silva
[7] Laurentino Gomes “1808”
[8] Ministro do Trabalho, do Emprego e do diálogo social desde maio 2012.
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